Leia o texto e descubra mais sobre a síndrome que afeta muitos idosos. Saiba como se prevenir!

A sarcopenia é uma síndrome caracterizada pela perda progressiva e generalizada da massa, força e função muscular esquelética.

Este processo é comum com o envelhecimento e está associado a desfechos adversos de saúde, como fragilidade, quedas, fraturas, diminuição da qualidade de vida e aumento da mortalidade.

Embora inicialmente descrita como uma consequência natural do envelhecimento, a sarcopenia é atualmente reconhecida como uma condição médica distinta que pode ser prevenida e tratada!

A sarcopenia é um processo multifatorial que envolve alterações complexas na fisiologia muscular. Sua fisiopatologia inclui fatores intrínsecos (como genética e envelhecimento) e extrínsecos (como estilo de vida, nutrição e atividade física).

Os principais mecanismos envolvidos na sarcopenia são:

• Alterações na Síntese Proteica: Com o envelhecimento, há um declínio na capacidade do organismo de sintetizar proteínas musculares. A resposta anabólica à ingestão de proteínas é reduzida, resultando em menor capacidade de reparação e crescimento muscular. Além disso, a redução dos níveis de hormônios anabólicos, como o hormônio do crescimento e a testosterona, contribui para a diminuição da massa muscular.
• Estresse Oxidativo e Inflamação Crônica: O aumento da produção de radicais livres e o estado inflamatório crônico, característicos do envelhecimento, causam danos ao músculo esquelético. Citocinas pró-inflamatórias _{(citocina é o nome geral dado a qualquer proteína que é secretada por células e que afeta o comportamento das células vizinhas portadoras de receptores adequados)}, como a interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α), promovem a degradação proteica, prejudicando a manutenção e regeneração muscular.
• Disfunção Mitocondrial: O envelhecimento afeta a função mitocondrial, levando à redução da produção de energia e ao aumento do estresse oxidativo. Isso prejudica a capacidade das fibras musculares de contrair e realizar atividades físicas, contribuindo para a atrofia muscular.
• Alterações Neuromusculares: O número de neurônios motores diminui com a idade, levando à perda de unidades motoras e comprometendo a ativação muscular. Essa perda de inervação afeta principalmente as fibras musculares de contração rápida (tipo II), essenciais para a força e potência muscular.

A prevalência da sarcopenia aumenta com a idade. Estima-se que entre 5% e 13% dos indivíduos com idade entre 60 e 70 anos apresentam sarcopenia, e esse número pode ultrapassar 50% em indivíduos acima de 80 anos.

Além do envelhecimento, a sarcopenia é influenciada por fatores como sedentarismo, má alimentação, doenças crônicas (diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca) e hospitalizações.

Diagnóstico

O diagnóstico é baseado em três critérios principais: redução da massa muscular, redução da força muscular e comprometimento da função física. Entenda abaixo cada um dos pontos.

Segundo o consenso europeu da European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP), a presença de baixa força muscular é o critério-chave para iniciar a avaliação. Os métodos de diagnóstico incluem:

1. Avaliação da Força Muscular: A força de preensão manual (handgrip) é um método prático e confiável para avaliar a força muscular. Uma redução na força de preensão está associada a maior risco de incapacidades e mortalidade.
2. Massa Muscular: A massa muscular pode ser medida por meio de métodos de imagem, como a absorciometria de raios-X de dupla energia (DXA) e a tomografia computadorizada (TC). A DXA é amplamente utilizada para avaliar a composição corporal e identificar a redução da massa muscular.
3. Desempenho Físico: O desempenho físico é avaliado por meio de testes funcionais, como o teste de velocidade de marcha, o teste de levantar-se da cadeira e o Short Physical Performance Battery (SPPB). Uma redução no desempenho físico indica comprometimento funcional associado à sarcopenia.

Tratamento e Prevenção

O tratamento da sarcopenia envolve intervenções multidisciplinares focadas em melhorar os sintomas. As principais abordagens terapêuticas incluem:

1. Exercício Físico

A atividade física, particularmente o treinamento de resistência (musculação), é a intervenção mais eficaz para combater a sarcopenia. Esse tipo de treinamento promove a hipertrofia muscular e aumenta a força, melhorando a capacidade funcional e a qualidade de vida. O treinamento de resistência deve ser realizado de forma regular, com intensidade adequada e progressão gradual. Além disso, o treinamento aeróbico e os exercícios de equilíbrio e flexibilidade são importantes para a manutenção da função motora e para a prevenção de quedas.

2. Nutrição

A nutrição adequada desempenha um papel fundamental na prevenção e no tratamento dessa síndrome. As estratégias incluem:

• Ingestão de Proteína: ingerir a quantidade suficiente (1,2 a 1,5 g/kg de peso corporal/dia) é essencial para estimular a síntese proteica muscular. Proteínas de alta qualidade, como aquelas encontradas em carnes magras, peixes, ovos e leguminosas, são as mais recomendadas. A distribuição da ingestão proteica ao longo do dia é importante para maximizar a resposta anabólica.
• Suplementação: Em casos de deficiência, a suplementação de vitamina D pode ser necessária para melhorar a função muscular. A suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), especialmente leucina, tem sido sugerida para estimular a síntese proteica em idosos.

3. Terapias Farmacológicas

Atualmente, não existem medicamentos específicos aprovados para o tratamento da sarcopenia. No entanto, algumas abordagens têm sido exploradas, como:

• Agentes Anticatabólicos: Fármacos que inibem a miostatina, uma proteína que regula negativamente o crescimento muscular, têm sido estudados como potenciais agentes terapêuticos para aumentar a massa muscular.
• Anabolizantes e Hormônios: Terapia com testosterona e hormônio do crescimento pode ser considerada em casos específicos, principalmente em indivíduos com deficiência hormonal. No entanto, esses tratamentos devem ser utilizados com cautela devido aos potenciais efeitos colaterais.

4. Abordagem Multidisciplinar

O tratamento da sarcopenia deve envolver uma abordagem multidisciplinar, incluindo médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos, para elaborar um plano de cuidados individualizado que aborde todas as necessidades do paciente.

Conclusão

A sarcopenia é uma condição prevalente e multifatorial que impacta negativamente a saúde e a independência dos idosos.

O diagnóstico precoce e manejo adequado são essenciais para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida.

Intervenções baseadas em exercícios físicos, nutrição adequada e, em casos específicos, terapia farmacológica, são estratégias efetivas para retardar a progressão da síndrome e promover a saúde muscular durante o envelhecimento.

Se você acredita que pode ter sarcopenia ou conhece alguém, entre em contato e agende sua consulta!

Dr. Fellipe Takatsu | CRM SP 157307/ RQE: 61862

Médico ortopedista e médico do esporte

 Referências

1. Cruz-Jentoft, A. J., et al. “Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis.” Age and Ageing, 2019.
2. Shafiee, G., et al. “Prevalence of sarcopenia in the world: a systematic review and meta-analysis of general population studies.” Journal of Diabetes & Metabolic Disorders, 2017.
3. Fragala, M. S., et al. “Resistance training for older adults: position statement from the National Strength and Conditioning Association.” Journal of Strength and Conditioning Research, 2019.