As doenças do quadril na infância compreendem um grupo de doenças que podem afetar o desenvolvimento e a função da articulação coxofemoral.
A identificação e o tratamento precoces dessas condições são essenciais para prevenir complicações a longo prazo, como deformidades articulares, limitação de movimentos e desenvolvimento de osteoartrite precoce.
Descubra no artigo abaixo as doenças mais comuns e como podem ser os tratamentos para devolver às crianças qualidade de vida e alegria!
Dentre as principais doenças infantis do quadril, destacam-se a displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ), a doença de Legg-Calvé-Perthes (DLCP) e o deslizamento epifisário proximal do fêmur (DEPF). Continue a leitura e saiba mais sobre cada uma delas.
1. Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ)
O que é?
A displasia do desenvolvimento do quadril é uma condição comum em recém-nascidos e crianças pequenas, embora possa persistir na idade adulta. Pode ser congênita (o bebê nasce com ela) ou se desenvolver após o nascimento.
Essa displasia é caracterizada por alterações na forma e na estabilidade da articulação coxofemoral. Pode variar de instabilidade leve a luxação completa do quadril. As causas dessa doença são multifatoriais, incluindo: fatores genéticos, hormonais (como os efeitos da relaxina durante a gravidez) e mecânicos (como a posição intrauterina do feto). A incidência é maior em recém-nascidos do sexo feminino, em primogênitos e em apresentações pélvicas ao nascimento.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é crucial para o sucesso do tratamento. Durante o exame físico do recém-nascido, os testes de Ortolani e Barlow são utilizados para avaliar a estabilidade do quadril. O exame físico de rotina nos primeiros meses de vida também é fundamental para o diagnóstico, pois a maioria dos casos é assintomática. A ultrassonografia é o método de imagem preferencial em lactentes até os 6 meses de idade, enquanto a radiografia é usada para avaliar crianças mais velhas.
Tratamento
O tratamento da DDQ depende da idade e da gravidade da condição. Em recém-nascidos e criaças de até 2 anos, o uso de órteses como o suspensório de Pavlik é eficaz para manter a cabeça femoral no acetábulo, promovendo o desenvolvimento adequado da articulação. Em casos mais graves ou quando a intervenção conservadora falha, métodos como a tração cutânea, gesso ou procedimentos cirúrgicos podem ser necessários para reposicionar e estabilizar o quadril.
2. Doença de Legg-Calvé-Perthes (DLCP)
O que é?
A doença de Legg-Calvé-Perthes é uma condição idiopática (causa desconhecida) que ocorre devido à necrose avascular da epífise da cabeça femoral. É mais comum em meninos, com pico de incidência entre 4 aos 8 anos de idade. Embora a causa exata permaneça desconhecida, acredita-se que fatores como alterações vasculares, predisposição genética e microtraumas repetitivos estejam envolvidos.
Diagnóstico
Os sintomas iniciais incluem claudicação (ato de mancar) e dor na virilha, coxa ou joelho, frequentemente sem um evento traumático associado. O exame físico revela limitação dos movimentos do quadril, especialmente na abdução e rotação interna. O diagnóstico é confirmado por exames de imagem, sendo a radiografia o primeiro método utilizado, mostrando alterações típicas, como aumento do espaço articular, esclerose e fragmentação da cabeça femoral. A ressonância magnética pode ser útil para avaliar a extensão da necrose e o envolvimento da cartilagem articular.
Tratamento
O objetivo do tratamento da DLCP é preservar a esfericidade da cabeça femoral e promover a remodelação adequada do quadril. O manejo depende da idade do paciente e da extensão da doença. Em crianças mais jovens, o tratamento conservador, incluindo restrição de atividades, fisioterapia e uso de órteses ou talas, pode ser eficaz. Em crianças mais velhas ou em casos de deformidades significativas, intervenções cirúrgicas, como osteotomias pélvicas ou femorais, podem ser necessárias para melhorar o alinhamento e a congruência articular.
3. Deslizamento Epifisário Proximal do Fêmur – Epifisiolistese
O que é?
O deslizamento epifisário proximal do fêmur ocorre quando a epífise da cabeça femoral desliza em relação ao colo femoral. A causa envolve fatores mecânicos e hormonais, sendo mais comum em adolescentes, especialmente em indivíduos com sobrepeso ou em rápido crescimento. Pode ocorrer de forma aguda (devido a um trauma) ou crônica (desenvolvimento gradual de sintomas).
Diagnóstico
Os sintomas incluem dor no quadril, coxa ou joelho e quando a pessoa começa a mancar. No exame físico, há limitação da rotação interna do quadril e a perna afetada pode estar em posição de rotação externa. O diagnóstico é confirmado por radiografias, que mostram o desalinhamento da epífise femoral. A detecção precoce é crucial para prevenir complicações, como necrose avascular e deformidades permanentes.
Tratamento
O tratamento da epifisiolistese é cirúrgico e visa estabilizar a epífise para evitar progressão do deslizamento. A técnica mais comum é a fixação in situ com parafuso, evitando a redução forçada para minimizar o risco de necrose avascular. Em casos graves, podem ser necessárias osteotomias para corrigir deformidades residuais.
Conclusão
As doenças do quadril na infância, como a DDQ, DLCP e epifisiolistese, representam desafios diagnósticos e terapêuticos que podem impactar a qualidade de vida a longo prazo.
O diagnóstico precoce e a intervenção adequada são essenciais para promover o desenvolvimento normal da articulação da criança e prevenir complicações, como dor crônica, limitação de movimento e osteoartrite precoce.
A abordagem multidisciplinar, envolvendo pediatras, ortopedistas e fisioterapeutas, é fundamental para o manejo eficaz dessas condições.
Se o seu filho ou sua filha está precisando de ajuda com uma situação como essa, entre em contato e agende sua consulta.
Dr. Fellipe Takatsu
Especialista Quadril
CRM SP 157307/ RQE: 61862
Referências:
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